quinta-feira, 27 de março de 2014

Reflexões sobre o livro “A vida que ninguém vê” de Eliane Brum




            Essa jornalista é uma inspiração. Li seu livro com se fosse um manual. Tentando achar em cada estória contada por ela, uma forma de aprender tal sintonia de palavras e de ideias. Temos a tendência de pensar o jornalismo de forma engessada e positivista, que foi o formato oficial por muitos anos. Partindo desse principio, o jornalista, seus textos e sua forma de reportar tinham que ser objetivos, mas é exatamente a subjetividade de Eliane que me causou espanto e admiração. Essa autora consegue transformar casos particulares em casos universais, sendo capaz de com palavras nos faz incorporar os sentimentos dos seus personagens.
 A crônica-reportagem da autora que eu mais gostei foi “Enterro de pobre” que conta o desgosto de um pai ao perder o filho para morte e para a pobreza. Em vários trechos, Eliane faz colocações que se assemelham com a obra “Morte e Vida Severina” de João Cabral de Melo Neto, o que é inevitável, pois tanto Severino de Maria quanto Antônio Antunes é testemunha da vida (e da morte) miserável do sertanejo pobre. Também em “O colecionador de almas sobradas”, a jornalista faz uma referência a casa de praia dos sonhos do personagem que resgatava relíquias do lixo como sua Pasárgada. Em “O Chorador” tem frases semelhantes às de Ariano Suassuna em sua obra “O Auto da Compadecida”. É fácil de observar a influência da literatura brasileira nos textos de Eliane Brum. Daqui para frente, buscarei ler mais livros de autores brasileiros para ver se crio uma consciência crítica e mais analítica sobre os aspectos particulares do Brasil e também sobre aspectos regionais para que me sirvam de base futuramente.
 

Além disso, as estórias condenadas à morte, como pacientes terminais, ganham um suspiro de vida e de esperanças assim que são resgatadas pela doutora das palavras, Eliane Brum. A jornalista quebra com a tendência da sociedade em dar valor ao que vem de cima e não ao que está ao lado, ao que está próximo. Dizem que a beleza está nas coisas simples, tenho certeza que essa é a visão de Brum que com sua sensibilidade e sua humildade consegue fazer estórias banais tornarem- se reflexões complexas e inspiradoras. Com simplicidade de sua escrita, mas não menos inteligente, a leitura desse livro é um exercício não só para o aluno de jornalismo, mas também para qualquer profissional que trabalhe com comunicação, com gente, como cidadão. Além da visão jornalística e gramatical, a questão sociológica e psicológica por detrás de cada reportagem, como algo que salta aos olhos atentos e sensíveis de Eliane Brum.
Enfim, o que me chama atenção na forma de escrever de Eliane Brum é como ela rompe, belissimamente, com o estilo positivista tradicional de se fazer jornalismo, transformando o ordinário em extraordinário, ela induz o leitor a pensar, a agir e a sentir como os seus personagens. Como tudo na vida de Eliane Brum aconteceu rápida e prematuramente, diferentemente de como acontece com os outros profissionais as área, tive medo ,no inicio, de que suas opiniões sobre o ofício do jornalista fosse um tanto idealizada. E tive razão. Tentei não me influenciar. Mas foi essa forma apaixonada da autora em falar da profissão que incentiva a mim e aos outros estudantes no inicio do curso de jornalismo, é ,de alguma forma, uma confirmação de que estou fazendo a escolha certa.