sexta-feira, 28 de abril de 2017

Quando a gentileza para o trânsito

Ailton Manuel da Silva, de 43 anos, faz de sua gentileza e de sua elegância armas contra o desemprego
 Crédito: Paulo Vasconcelos
Os protestos se tornaram rotina para os pernambucanos. Frequentemente, passeatas, paralisações e manifestações mudam a dinâmica dos espaços urbanos da cidade e ganham espaço na mídia. No entanto, pouco se vê nos noticiários destaque para pequenas revoluções diárias. Como a de Ailton Manuel da Silva, de 43 anos, que faz de sua gentileza e sua elegância uma poderosa arma contra o desemprego e a brutalidade do trânsito.

Posicionado no semáforo entre as ruas da antiga feira livre de Prazeres, bairro da Zona Sul do Recife, o Barão, como é chamado por alguns comerciantes locais, chama atenção ao vender bebidas e salgados numa bandeja, envergando o traje de garçom e distribuindo cumprimentos a quem passa. Sempre acompanhado de um “bom dia”, “com licença” ou ”por favor”, Ailton humaniza a relação entre o vendedor ambulante e os motoristas.

 A ideia de se vestir de garçom surgiu em janeiro de 2015, anos após perder o emprego de lixador na construção naval. “Nunca trabalhei servindo mesas, mas tinha a roupa em casa. Decidi usá-la para abordar as pessoas que andam em carro de luxo e cumprimentá-las para passar mais segurança”, explicou o comerciante. A nova aparência de Ailton foi aprovada pelos motoristas. “Muito criativa a iniciativa dele. Com certeza, faz as pessoas quererem comprar seus produtos”, disse a empresária Sherly Pedrosa. “É nota dez. Ele faz um ótimo comercial do próprio produto se vestindo assim, por isso que eu compro”, afirmou o funcionário público José Ovídio.

 Como diz o tão difundido ditado: “Gentileza gera gentileza”. E esse ciclo de boas energias retorna para Ailton em forma de vendas, cesta básica e gorjetas. Ele chega a vender 120 garrafas de água por dia e garante o sustento da família. Mas essa não é a melhor parte de seu trabalho. “As vezes a pessoa está dentro do carro com o rosto triste e quando eu dou ‘bom dia’, ela sorri de volta. Isso é muito bom pra mim”, admitiu Ailton.
Crédito: Paulo Vasconcelos

 Sob o sol escaldante do local, Ailton tem as suas técnicas para driblar o calor: chega a beber cerca oito litros de água durante o expediente, de 6h30 às 17h, passa protetor regularmente e não abre mão dos óculos de sol. Sua roupa fechada pode parecer piorar o calor, mas também o protege da exposição direta do sol. “É preciso se concentrar no trabalho. Fico pensando na minha atividade para ganhar o meu pão para não pensar no calor como uma dificuldade. Preciso trabalhar”, contou Ailton.

 A educação e a padronização são consideradas os pontos de vantagem para os negócios de Barão. Já que a partir delas, os clientes se sentem mais a vontades de consumir seus produtos. Casado e pai de três filhos, Ailton tem planos para o futuro. “Quero fazer um curso de administração na faculdade, área que sempre tive interesse, para depois abrir uma lanchonete para mim”, finalizou.